Capítulo 1

Quanto mais simples melhor

A simplicidade é o mais alto grau de sofisticação.
Leonardo Da Vinci

Simplificar é conseguir extrair o melhor do que algo tem a nos oferecer, a sua essência. Quando temos muita complexidade envolvida, nos perdemos facilmente entre interpretações vagas e distrações fugazes, o que nos mantém presos à superfície e dificulta a construção de nosso entendimento.

Quase tudo é ruído e pouquíssimas coisas são essenciais.

Greg McKeown

Saber discernir entre o que realmente importa e aquilo é trivial e não agrega significado é um exercício de análise e reflexão. Quando não dedicamos tempo para nos aprofundarmos no entendimento de algo antes de expressar uma ideia, obrigamos outra pessoa a fazê-lo, sob o risco de uma interpretação equivocada pela nossa falta de clareza e objetividade.

Essencialismo: A disciplinada busca por menos

No livro Essencialismo¹, de Greg McKeown, o autor propõe simplificarmos a nossa relação com a vida, priorizando aquilo que é realmente importante para que possamos atribuir mais significado ao que fazemos.

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A busca pela simplicidade é uma jornada de descoberta da essência, do significado e da síntese das coisas. Quando temos dificuldade de expressar uma ideia ou de sintetizar algo é porque não nos aprofundamos o suficiente para entender o que de fato agrega valor. Quando conseguimos chegar à compreensão do que é essencial, fica fácil comunicar e simples de se fazer entender.

Simples, mas com significado

Agir de forma simples não significa ser simplório. A simplicidade reside em fazer menos porém melhor, enquanto a simploriedade se limita a fazer o mínimo de esforço para se entregar algo. Enquanto simplificar exige entendimento profundo para discernir entre aquilo que tem significado e o que é irrelevante, a simploriedade é vazia de significado, por isso, ao invés de comunicar, complica.

As coisas simples são carregadas de significado. Quando aplicamos esse entendimento no processo criativo, não criamos coisas supérfluas e todos os elementos colaboram para o entendimento do todo. 

Vemos isso na construção de uma identidade visual. O nome, o símbolo, as cores, o tipo de fonte utilizada, o conceito visual, todos esses elementos, quando são coerentes e harmônicos entre si, reforçam a proposta de valor da marca. Já quando há elementos desnecessários e sem significado, distanciamos nosso entendimento e dificilmente nos conectamos com a marca.

Toda parte tem em si a predisposição de unir-se ao Todo, para que assim, possa escapar à própria imperfeição.²

Leonardo da Vinci

O mesmo acontece quando projetamos a interface de um produto. Assim como a tela de uma pintura, onde todos os elementos colaboram para a compreensão do todo, todas as opções disponíveis para o usuário em uma determinada interface precisam contribuir para resolver o mesmo e único problema. 

Aquilo que não agrega significado para a resolução do problema do usuário, desagrega o seu entendimento. Quando cada elemento está no seu devido lugar e cumprindo a função certa no momento certo, estamos sendo simples, mas com significado.
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A lei de Hick e a complexidade

O tempo necessário para tomar uma decisão aumenta com o número e a complexidade de opções disponíveis.

Jon Yablonski

A simplicidade também tem a ver com a capacidade de síntese. Só conseguimos sintetizar o que de fato entendemos e só vamos conseguir explicar de forma clara aquilo que compreendemos. Quando não há entendimento, utilizamos mais informações do que o necessário o que acaba criando uma sobrecarga cognitiva no usuário que o afasta cada vez mais da compreensão.

A nossa mente consegue armazenar e processar ao mesmo tempo uma quantidade limitada de dados e quanto mais informação é utilizada para explicitar algo, maior será a dificuldade em tomar uma decisão.

A lei de Hick

A lei de Hick foi formulada em 1952 pelos psicólogos William Edmund Hick e Ray Hyman, que examinaram a relação entre o número de estímulos presentes e o tempo de reação de um indivíduo a um determinado estímulo. O que eles descobriram foi que aumentar o número de opções disponíveis aumenta de forma logarítmica o tempo de decisão. Em outras palavras, as pessoas demoram mais para tomar uma decisão quando têm mais opções para escolher. ³

Por isso, precisamos ser seletivos na hora de compor uma interface de um produto e escolher apenas aquelas opções que representam alternativas viáveis no momento para resolver o problema do usuário.

Muitas vezes, no anseio de apresentar todas as opções possíveis que um sistema pode realizar, acabamos gerando complexidade desnecessária que vai impedir o usuário de resolver até as operações mais simples.
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Minimalismo em interfaces visuais

O minimalismo é uma resposta à simplicidade aplicada nos diferentes contextos de nosso cotidiano. Como estilo de vida, propõe reduzirmos de forma significativa o consumo de coisas, priorizando apenas o necessário para uma vida plena. Como meio de comunicação, propõe diminuirmos a quantidade de informações e elementos visuais, sintetizando a mensagem, mas sem perder o seu significado.

Minimalismo bem feito cria uma experiência emocional positiva, reduz a sobrecarga de informação e os usuários tendem a responder melhor às interfaces.4

Lenine(on)

Um dos conceitos fundamentais do minimalismo se baseia na seguinte frase: menos é mais. Menos informação para mais significado. Menos elementos visuais para mais foco no conteúdo. Menos opções para mais assertividade nas escolhas. Quando minimizamos aquilo o que é irrelevante, evidenciamos o que é essencial.

Tudo em uma interface comunica, até os espaços vazios. É um grande equívoco achar que todo espaço tem que ser preenchido por algo, pois o vazio, também tem a sua função. Na comunicação visual o vazio é a área de respiro de um elemento e quanto maior a margem de respiro, mais importância e evidência este elemento ganha.

Aplicar o minimalismo nas interfaces visuais é realizar o casamento entre a forma e a função. É compreender que cada forma exerce uma função e utilizar isso em benefício da comunicação. É saber utilizar até mesmo os espaços vazios para criar pausas ou reflexões na interação do usuário com a interface e sempre buscar através da forma, o significado para aquilo que se deseja comunicar.

Como simplificar a experiência do usuário?

A experiência do usuário vai além da interação com interfaces. De acordo com a NN Group, a experiência também considera o contexto em que o usuário está inserido e os seus anseios. Assim como esperamos que um carro, como um meio de transporte nos leve de um determinado local ao outro, também esperamos, como usuários, que um produto opere como uma extensão de nós mesmos e nos conduza, a partir de nosso contexto, até a resolução de nosso problema.



A interação com as interfaces, que prevê a realização de uma tarefa única e específica, é apenas um dos 3 níveis da experiência segundo o NN Group.5 Quando a tomada de decisão do usuário é influenciada por fatores externos e acontece ao longo do tempo, entramos no nível da jornada, que também considera a interação do usuário com outros canais ou dispositivos. Quando a experiência envolve fatores mais subjetivos e de longo prazo, como atendimento ao cliente e suporte após a aquisição do produto, entramos no nível do relacionamento.

Definição: Jornada do usuário

A jornada do usuário em UX é a compreensão de todas as fases de interação que o cliente final tem com um produto ou serviço. Ou seja, realiza-se o mapeamento detalhado de todo contato e experiência possível que o usuário poderá ter durante a utilização do que está sendo proposto.6

Para que um produto seja uma ferramenta de fácil operação pelo usuário, precisamos inicialmente mapear todas as ações que ele precisa realizar e desenhar todos os caminhos que ele deve percorrer até chegar ao seu objetivo final, considerando todos os níveis de experiência envolvidos. Mesmo que a entrega final seja uma interface e que o usuário precise realizar tarefas únicas e específicas, aspectos de sua jornada e de seu relacionamento podem influenciar a sua percepção no uso do produto.

Para simplificar a experiência do usuário, precisamos entender todos os aspectos que influenciam seu comportamento, para que possamos projetar produtos que antecipem suas necessidades e atendam os seus anseios a partir de seu contexto.
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Simples, mas funcional

Em última instância, o que determina a eficiência de um produto é a sua usabilidade, ou seja, a sua capacidade de realizar todas as funções esperadas, de forma simples e eficaz. O conteúdo sempre deve preceder a forma, de modo que, sempre que a forma comprometer a interpretação do conteúdo, este deve ser priorizado.

Uma interface funcional não é necessariamente a mais bonita ou elegante, mas sim aquela que responde prontamente às demandas do usuário, mesmo que isso exija em muitos momentos, comprometer a estética do produto. Sempre há meios e recursos de tornar a interface mais agradável ao usuário, mas devemos evitar que a forma sobreponha o conteúdo, criando layouts esteticamente impecáveis mas vazios de significado.

Excesso de informações visuais ou recursos fora de contexto podem dispersar a atenção do usuário ou até mesmo confundi-lo, gerando desvios de rota. Tornar a jornada do usuário agradável, removendo obstáculos e sinalizando o caminho com informações relevantes e recursos que facilitem o seu avanço até o objetivo final é ser simples, mas funcional.
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Para pensar…

A simplicidade é uma mentalidade que pode ser desenvolvida no dia a dia, no nosso relacionamento trivial com as coisas. Experimente começar a observar os objetos em seu cotidiano e a se perguntar: Para que ele serve? Ele cumpre com a sua funcionalidade? O que está em excesso que não contribui para o uso? Existe uma forma mais simples de operar?

Os objetos mais simples e funcionais são aqueles que exigem pouca ou nenhuma necessidade de aprendizado, pois eles se valem do conhecimento já existente no consciente coletivo, de como as coisas funcionam. O papel do designer, neste caso, é usar de recursos que resgatem esse conhecimento e o apliquem de forma prática de modo a facilitar a experiência do usuário para que ela seja o mais natural possível.

Antes de seguir em frente

Antes de avançar, sugiro as seguintes reflexões:

  1. As interfaces do seu produto comunicam de forma simples ao usuário? Cada elemento visual e recurso disponível possui uma função e significado que contribui para a entrega de valor do produto?
  2. As funcionalidades dos recursos disponíveis em seu produto são intuitivas ou o usuário precisa recorrer a tutoriais ou ao suporte para compreender a sua operação?
  3. Você conseguiria utilizar menos elementos ou reduzir a quantidade de etapas para facilitar a comunicação e operação do seu produto?

Referências bibliográficas

¹ MCKEOWN, Greg. Essencialismo: A disciplinada busca por menos. Portuguese Edition. Traduzido por Editora Sextante, 2015.

² DA VINCI, Leonardo. Anotações de Da Vinci por ele mesmo. Madras Editora LTDA, 2004.

³ YABLONSKI, Jon. As leis da psicologia aplicadas a UX. Editora O’REILLY. Traduzido por Novatec Editora, 2020.

4 LENINE(ON). Minimalismo na UX. Disponível em https://brasil.uxdesign.cc/minimalismo-na-ux-309cd4cfee6f. Acesso em 20 mai. 2022

5 D’ARC, Tânia. Experiência do usuário: o que é, como fazer e como otimizar. Disponível em https://www.smarthint.co/experiencia-do-usuario/. Acesso em 20 mai. 2022

6 ECHOS, Equipe. O que é a jornada do usuário e qual sua importância em UX? Disponível em https://escoladesignthinking.echos.cc/blog/2020/09/jornada-do-usuario-ux/. Acesso em 20 mai. 2022

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Gabriel Oliveira

Especialista em Comunicação Digital, UX/UI e Design Thinking, atua como consultor na EximiaCo ajudando as empresas a utilizarem a tecnologia para gerar mais resultados.

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